terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Felicidade

Um dia claro, nem quente, nem frio.
mãos dadas, cabelos brancos
não o seu, tingido fio a fio
vaidade mais forte que os anos.

A cebola onipresente nos pratos
sabor familiar que conforta
nublando os tristes fatos passados
realçando a vida que importa.

Os amigos em volta da farta mesa
os filhos e os netos, talvez,
tornando a família que escolhemos coesa
com a família que gente fez.

Nas paredes, os pequenos reconhecimentos
ao lado de nossos livros na estante
e a certeza na cabeça e no peito
de ter lutado o bastante.

S.P, Novembro de 2007

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Cão

Cão não tem família
que nem tem toda gente.
sequer tem matilha
vive na rua, na via.
Cão urbano, naturalmente.

Cão não tem raízes
como qualquer vegetal.
Muda de cidades, países,
parte sem maiores crises
não sabendo se isso é normal.

Cão não tem porto
para atracar como um navio.
Vai de lado, meio torto,
sempre sozinho, sempre solto.
Obviamente, cão vadio.

Cão não escolhe seus amigos.
Apenas é escolhido
aproveita a festa, os risos
e quando todos se tornam ariscos,
some sem mostrar-se sentido.

Diante de tais consideraçãoes,
creio ter encontrado minha filiação.
Se é assim, sem recriminações
nem maiores ponderações
desejo dignamente ser chamado: Cão.

S.P., Setembro de 2007.